Por João Marcos Andrade
Pode soar como prepotência ou até mesmo arrogância iniciar um artigo diretamente vinculado a um tema tão sério e impactante como é a pandemia provocada pela covid-19 já com um tom de visão, prospecção, imaginação, enfim, de sentimentos que expressem o que virá a ocorrer ao findar esse doloroso e angustiante período.
Mas não, o propósito da condução deste texto é aproximar ao máximo a nossa leitura ao cenário que se deslumbra tão logo saiamos globalmente dessa situação desmotivadora e prejudicial sobre vários aspectos, dentre eles econômicos, exatamente a partir de um momento em que se iniciava uma percepção de otimismo — e consequente confiança do mercado como um todo em relação ao Brasil.
Assim passamos a viver um presente muito implacável quanto ao sentido de possibilidade de estimativa, previsão, e projeções em relação a vários setores. Dentre eles, o Comércio Internacional, que desde o início da crise, ainda no seu epicentro na província de Wuhan na China, já impactava severamente os resultados de balanças comerciais de vários países, dada a importância da produção do mercado chinês em relação à composição dos aspectos presentes nas negociações “mundo afora”.
Esse “impacto” inicialmente no mercado asiático apresentava contornos de desorganização e decomposição de projetos industriais, ou mesmo de negócios de comércio, a partir de paradas de exportações da China para atender seus clientes globais. Pois, à medida que o vírus se espalhava da Ásia até o restante do planeta, praticamente o impacto tomava contornos de imprevisibilidade quanto à extensão que se observaria.
Tais ocorrências de certa forma obrigaram os governos e as empresas a se readequarem e a revisarem seus planejamentos mesmo antes do primeiro trimestre do ano. Ou seja, muitas empresas sequer haviam recebido insumos para produção de seus bens a serem vendidos naquele período, pois passaram a ser “peça de alto desejo”.
Esse novo cenário demanda urgente reorganização. Porém, sem uma sólida base para tomada de decisão, tendo em vista a impossibilidade de se vislumbrar um final da crise em curto ou médio prazo, e até mais, conforme os níveis de “estrago” aumentam, o longo prazo parece ser o único e mais certo caminho a ser trilhado visando um novo target (alvo – termo muito utilizado nas negociações internacionais).
Diante de tudo isso, já é hora de se buscar um novo horizonte, um pós-crise. E como em praticamente todas elas sempre surgem oportunidades, é momento de novos começos, novos desafios, principalmente considerando que a Balança Comercial Brasileira atingiu patamares de USD 402,7 bilhões entre Importações e Exportações em 2019 (dados do Ministério da Economia), dos quais aproximadamente USD 225,3 bilhões foram obtidos nas exportações.
O país encerra o primeiro trimestre de 2020 com resultado de sua Balança Comercial entre USD 49,5 bilhões nas vendas ao exterior (exportações), contra aproximadamente USD 43,9 bilhões nas aquisições do exterior (importações), sendo que ao compararmos os dados, no mesmo período do ano passado, nossas exportações atingiam valores próximos de USD 51,1 bilhões, contra USD 42,1 bilhões nas importações, apresentando já nesses primeiros 90 dias do ano, diferenças consideráveis em seus valores – momento ainda não significativo sob o ponto de vista de otimismo quanto ao fim da crise do vírus. Porém, em tese, uma exposição de valores que certamente apresentará diferenças mais acentuadas em relação aos próximos períodos, na medida em que os impactos são sentidos globalmente, já com pequenos sinais de retração na economia global, combustível principal para os saldos negativos das balanças comerciais dos países.
Mas sempre há “vida que segue”, aquilo que precisamos enfrentar no futuro, e este já se apresenta como “incerto”, porém com uma dose muito forte de mistério. Isso ocorre exatamente porque é certo que novas medidas econômicas deverão ser apresentadas pelos governos para restabelecimento de suas economias: novas regras, novos procedimentos para as práticas comerciais globais. Sendo que, mesmo no início do agravamento da crise, os países mais expoentes no Comércio Internacional já reviam alguns procedimentos, como redução tarifária para aquisições de produtos de combate ao coronavírus e medidas de flexibilização às regulamentações para entradas de produtos médicos de acordo com suas regras de vigilância sanitária.
O Brasil, por exemplo, através de Resoluções, Portarias, Instruções Normativas e outras normas legais, conseguiu reduzir alíquotas do Imposto de Importação em dezenas de produtos importados relacionados diretamente ao combate ao vírus, além de outras medidas que permitiram (e permitirão, inicialmente até 31/12/2020) empresas brasileiras adquirirem no mercado externo produtos para comercialização interna. Com tais “incentivos” fiscais (termo este com grifo nosso exatamente por se tratar de uma necessidade de questões humanitárias), a face do “incentivo” fiscal não como meio de alavancagem de negócios, mas sim abertura de portas e facilitação para que na maior extensão possível as empresas encontrem alternativas de alimentar o setor de saúde público e privado, do maior número possível de recursos para o combate ao vírus.
Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 14 de abril de 2020, os dados das pesquisas relativas ao Comércio Internacional davam conta de que é esperado um impacto negativo de aproximadamente 20% nos resultados das negociações internacionais para o corrente ano, sendo que destes, se forem avaliados sob previsões otimistas, chega-se a 15% contra 25% para quem optar pela ótica pessimista.
É fato que qualquer um dos números é muito delicado e extremamente prejudicial para a economia como um todo, pois os países dependem cada vez mais uns dos outros. A queda nos negócios internacionais acentua eventos deficitários ao mesmo tempo em que, ao citarmos dados baseados em pesquisas, é necessário também manifestarmos nossas convicções no aspecto otimista de que, como agentes de transformação que somos, precisamos unir esforços e buscarmos uma fórmula de alavancar negócios globais para juntos retomarmos o crescimento tanto do PIB brasileiro e, por extensão, mundial, sem jamais esquecer dos menos favorecidos. Afinal, antes do Comércio Internacional, precisamos “olhar os nossos”, quem está mais próximo e dependendo de nosso auxílio, seja de qual natureza for.
Realidade cruel, mas convicção de que com saúde seremos e sairemos vitoriosos no pós-covid-19.
Autor: João Marcos Andrade é professor dos cursos de Global Trading e Comércio Exterior do Centro Universitário Internacional Uninter.
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