Por Roberto Nunes
Todo cidadão tem lá suas qualidades e uma missão na vida. Há quem seja altruísta, organizado, determinado e líder nato. No mundo offroad, quem reúne essas características geralmente se sai bem nas trilhas, especialmente as mais ardilosas e cheias de obstáculos. O trilheiro Alexandre Brandão, mais conhecido por Detona Ralph nas subidas e descidas íngremes e trechos mais duros e enlameados, começou cedo com sua paixão pelos veículos 4×4, principalmente as picapes, e vem conquistado uma legião de “parceiros” nos encontros de jipeiros na Bahia.
Organizado, Brandão usa suas aprendizagens e métodos do curso de Administração de Empresas. A determinação e a liderança foram conquistadas nos quatro anos de Exército Brasileiro. Nesta época, o jovem Brandão fez parte da “Operação Pipa”, fiscalizando a entrega de água pelos carros-pipas em localidades bastante carentes da Bahia. E é daí que o veículo 4×4 começou a entrar, literalmente, na vida de Brandão e no seu dia-a-dia. “Passei um bom tempo dirigindo picapes”, recorda Detona, que administra o Centro de Entretenimento e Treinamento Off-Road (Cetor), uma espécie de quartel-general do 4×4 com o intuito de oferecer cursos de formação e de reciclagem para quem ama as trilhas e terrenos mais acidentados.
A escola de treinamento de trilheiros 4×4 surgiu após Brandão ganhar mais experiência na organização de eventos como a Trilha da Coruja, Enduro Fantasy, Trilha do Boi e Planeta Pickup. Ele percebeu o grande número de apaixonados por “veículos tracionados” sem tantos conhecimentos de offroad nem tampouco do veículo equipado com tração 4×4, por exemplo. A partir dos eventos, Detona começou a “enxergar” que seria possível organizar módulos de cursos offroad levando em consideração os mais variados níveis dos trilheiros com aulas esclarecedoras nos módulos básico, intermediário e mais hard.
Vida de trilheiro
No mundo offroad, todo trilheiro tem a máxima: “Nunca sozinho e sempre bem acompanhado nas trilhas”. Brandão explica que a segurança é item número 1 e essencial para entrar e sair das trilhas. Casado e pai de dois filhos, Brandão leva a sério a segurança e cuida de todos. Geralmente, ele é o primeiro a chegar e o último a sair. É uma espécie de guardião dos trilheiros.
Com experiências nos mais variados veículos 4×4, Detona foi se especializando no mundo offroad e nas picapes. “Andei muito de picape no Exército. Depois disso, trabalhei na Companhia Baiana de Pesquisa Mineral por mais de 3 anos, dirigindo Ranger 4×4, rodando em trechos inóspitos aqui na Bahia e no Estado do Piauí. Além do trabalho, lá pelo ano de 2014, a condução 4×4 passou a ser um hobby e hoje é trabalho”, adianta.
Diretor do Clube Bahia Expedition 4×4, Alexandre Brandão tem hoje em sua garagem um Suzuki Vitara e sua “viatura” Nissan Frontier, uma picape bruta e preparada com pneus Mud, suspensão reforçada e o bom motor 2.8 MWM. Entre as suas melhores experiências, estão a expedição Transamazônica e o Planeta Pickup, um passeio organizado pelas empresas Tecxan Produções e Cetor que já se transformou em um dos maiores eventos multimarcas de picapes do Nordeste do Brasil.
Com data para o dia 18 de abril, o Planeta Pickup foi adiado por conta das restrições e dos cuidados contra o Coronavírus. A organização do evento reagendou para o dia 6 de junho.
A brincadeira offroad vai além de colocar veículos 4×4 em trechos de lamas e buracos, por exemplo. Detona adianta que faz questão de promover encontros de amigos e da família. “Tem trilha que é possível levar a mulher e os filhos. Outras são mais hards, ai só quem vai são os preparados”, brinca.
Brandão explica logo que atolar faz parte do mundo 4×4. Então, anota ai: quem nunca atolou deve estar mentindo ou nunca entrou em um trecho totalmente inóspito. “Precisamos testar tudo, sentir os obstáculos e definir se temos um ambiente seguro e controlado para que outros veículos, a chamadas viaturas, possam passar com diversão, adrenalina. Porém com segurança no dia do evento. Agora, realmente, tem muito jipeiro que tem medo e vergonha de atolar para não ser chamado de “Bração””, explica ele, dizendo que o motorista-bração é o de pior desempenho nos passeios offroad.
E no fim de tudo os participantes dos eventos de Detona ainda fazem doações de roupas e alimentos para instituições de caridade da região metropolitana de Salvador.
Leia a entrevista de Alexandre Brandão, o Detona:
Autos e Motos – Como surgiram os veículos 4×4 na sua vida? Conta ai sua primeira experiência.
Alexandre Brandão – Servi ao Exército Brasileiro por 4 anos e lá fiz parte da “Operação Pipa”, fiscalizando a entrega de água pelos carros-pipas em localidades bastante carentes em toda a Bahia. O acesso a esses locais era feito apenas por pickups 4×4, onde iniciei a paixão pelo esporte. Depois disso, trabalhei na Companhia Baiana de Pesquisa Mineral por mais de 3 anos, dirigindo pickups modelo Ranger 4×4, rodando em trechos inóspitos aqui na Bahia e no Estado do Piauí. Além do trabalho, lá pelo ano de 2014, a condução 4×4 passou a ser um hobby, quando comprei um 4×4 próprio: um Suzuki Vitara V6. Tempos depois, o mundo offroad transformou minha própria empresa e vida para sempre.
Autos e Motos – Qual foi o passeio 4×4 mais forte que você participou?
Alexandre Brandão – Dentre todos foi a Expedição TAC do nosso amigo Sérgio Holanda à Transamazônica que fiz em 2017: as viagens de até 48 horas em cima de uma rampa de ferro junto com as viaturas, sendo empurrado por um rebocador para trechos de matas vicinais bastante fechadas, onde passávamos muito tempo sem conseguir ver o céu, pois as copas das gigantes árvores cobriam tudo em uma magnífica e estonteante sensação de demonstração de como somos pequenos junto à natureza! Também destaco o trabalho em equipe vivido lá para superar o cansaço, a fadiga e, em certos momentos, até fome, pois tínhamos pouco tempo para conseguir alcançar certos pontos predeterminados por Serjão e montar acampamento em clareiras mais seguras, devido os animais que vivem na Amazônia. Encerramos os 16 dias na Transuruará, com um percurso bastante técnico, pois além da lama e troncos naturais da região, haviam bastante facões (trechos fundos, por conta da passagem de caminhões, que fazem o transporte de madeira não regular), proporcionando um último dia no estilo “jipeiro Hard”, até chegar na cidade de Altamira no Pará. Um exercício de offroad e superação inesquecíveis!
Autos e Motos – Todo trilheiro tem apelido. Como surgiu o seu apelido (Detona)? Quebrou muito carro nas trilhas?
Alexandre Brandão – (Hahaha) Todo jipeiro precisa ter o seu apelido dado em trilha, estabelecendo assim o “batismo”. Pode acontecer por uma semelhança com alguém ou algo, alguma atitude na forma de guiar sua viatura ou por alguma besteira falada no grupo ou no rádio! rs! O meu batismo aconteceu em um passeio que fazíamos pelo meu clube do coração, o Bahia Expediton 4×4, em um trecho da Lagoa Preta (Próximo de Praia do Forte). Apesar de, na época, ter conhecimento e muita experiência em trechos de erosões, charcos, travessias e afins, não tinha para andar em dunas. O Vitara V6 entrou nas dunas com os pneus com calibragem de asfalto e sem a aceleração correta para andar naquele tipo de terreno e o resultado foi que passei por cima de pequenas árvores no percurso, até que nosso PP (“Pica Pau”) falou no rádio: “Rapaz! Sai da frente que o cara está detonando tudo….” hahaha! Como dizem que eu também pareço com o personagem do desenho animado, juntaram tudo e pegou o apelido “Detona Ralph”! Agradeço muito aos líderes da época e associados do Bahia Expedition 4×4 pelas orientações e paciência comigo!
Autos e Motos – Já atolou muito, então, né? Sem essa de ficar com vergonha de atolar. Trilheiro tem que atolar, né?
Alexandre Brandão – Só atola quem faz trilha, isso é a verdade! Hoje nós temos em nossa casa, além do Vitara, uma pickup Nissan Frontier 2.8 MWM e posso te dizer, sem vergonha nenhuma, que atolo também, principalmente nos levantamentos iniciais que fazemos para levar nossos associados da Tecxan Produções em trechos dosados nos nossos eventos. Precisamos testar tudo, sentir os obstáculos e definir se temos um ambiente seguro e controlado, para que outras viaturas possam passar com diversão, adrenalina, porém com segurança no dia do evento. Agora, realmente, tem muito jipeiro que tem medo e vergonha de atolar para não ser chamado de “Bração”!!! hahaha
Autos e Motos – E essa transição de passar de trilheiro para organizador de passeio com donos de veículos 4×4?
Alexandre Brandão – Foi uma coisa natural. Acredito que, como prezo por organização e consigo passar segurança para os outros jipeiros, em consequência passaram a confiar em mim suas famílias para todos se divertirem sem ninguém quebrar a viatura ou ter um acidente por conta da irresponsabilidade do puxador do trecho. Fui “puxando” várias trilhas ao longo de tanto tempo e foram me pedindo para continuar. Pronto! O hobby virou trabalho.
Autos e Motos – Seu próximo evento é o Planeta Pickup? Quais são os planos para a edição 2020?
Alexandre Brandão – O calendário da Tecxan Produções está fechado para mais um ano e o Planeta Pickup se configura como o maior evento exclusivo para pickups 4×4 multimarcas do Nordeste. Está tudo pronto para a edição 2020 (camisas esgotadas, sacolas, brindes e trofeus).
Autos e Motos – Há risco de não ocorrer, por conta das restrições em combate ao Coronavírus, mas você continua otimista para colocar todas as picapes na trilha do Planeta Pickup 2020?
Alexandre Brandão – Eu me considero uma pessoa otimista, porém também sou bastante responsável. Estamos aguardando até quarta-feira, 01 de abril (logo o dia internacional da mentira. ninguém merece! rs), para fazer as verificações junto à Prefeitura de Lauro de Freitas e Órgãos de Saúde Estaduais e Federais, para eventual confirmação ou não do evento em 18 de Abril. Caso não seja possível, como já está tudo pronto, basta adiar a data.
Autos e Motos – Quais são as dicas básicas para o bom trilheiro?
Alexandre Brandão – Primeiramente entender que offroad é um esporte para agregar, juntar famílias, “churrascar” e “resenhar”. Mas também é um esporte de risco e como tal é preciso ter prudência e entender as limitações do piloto e da sua viatura. Não se deve correr para ultrapassar os outros no meio da trilha, sendo muito melhor andar a 15 km/h traçado e reduzido, transpondo os obstáculos e curtindo a natureza. Uma outra dica bacana é respeitar as diferenças entre cada jipeiro. Um exemplo disso é que, independentemente do tipo da viatura na trilha, seja com um veículo caro e equipado, ou em viatura mais simples, todos vão ultrapassar os obstáculos, com maior ou menor grau de dificuldade. O que importa para o jipeiro é a união e nunca deixar ninguém pra trás.
Autos e Motos – E o carro, além de ser 4×4, o veículo deve ter o que de equipamentos?
Alexandre Brandão – Inicialmente o “Novo Jipeiro” deve saber o que ele quer fazer nesse esporte. Seu foco será trilhas leves, trilhas pesadas, passeios ou expedições? Uma viatura deve ter o mínimo necessário para poder acompanhar os outros, como:
– Itens de regate básicos: Cinta de Reboque e 2 manilhas;
– Caixa de 1º socorros, contendo também os medicamentos de uso contínuo dos ocupantes do veículo e anti-alérgicos;
– Pneus adequados para o tipo de perfil do passeio / trilha que se pretende executar, que podem ser HTs, ATs, Mud´s ou Lameiros; e
– EPIs, para os seus ocupantes, como calça e botas. Basicamente isso!
Agora para trilheiros ou expedicionários que necessitam ter uma viatura mais preparada, será necessário, além das recomendações acima definidas:
– Guincho de resgate;
– Rampa de desatolagem;
– Patesca;
– Pelos menos mais 4 Manilhas e outra Cinta de Reboque;
– Macaco Hi-Lift; dentre outros.
Autos e Motos – Trilheiro tem a máxima: “nunca sozinho e sempre bem acompanhado nas trilhas”. É isso mesmo?
Alexandre Brandão – Com certeza, caso ocorra algo fora do seu controle, estar sozinho poderá ocasionar um problema extremo.
O correto é que o jipeiro saia para trilha com, pelo menos, 3 viaturas e ao menos uma delas tenha guincho, pois poderá dar um suporte correto e seguro para continuação do trajeto.
Autos e Motos – Quais são os primeiros passos para entrar na brincadeira do mundo 4×4?
Alexandre Brandão – Primeiro saber o que o se deseja nesse esporte: passeios, trilhas leves, trilhas pesadas ou expedições. Em seguida, entrar em contato pelos sites ou redes sociais da sua região com os grupos off road. Uma dica bacana será buscar por grupos que tenham o mesmo modelo do seu veículo. Ajudará muito nas dicas sobre manutenção e equipamentos especificos. Se você gosta de ficar em casa, fim de semana ir para o shopping e não gosta de se sujar… com certeza, o seu esporte não é offroad!
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