Por Roberto Nunes, em Betim, Minas Gerais
A função do jornalista automotivo é conhecer profundamente modelos dos mais variados segmentos e marcas. Desde 2002, venho testando carros nos lançamentos e em avaliações realizadas em Salvador, na Bahia. São experiências variadas e há algumas que são especiais, como a oferecida pela Fiat do Brasil para comemorar os 40 anos de produção do 147, primeiro modelo produzido em série com motor 100% movido a álcool.
Lançado exatamente no dia 5 de julho de 1979, o Fiat 147 a álcool marcou a história da indústria automotiva nacional. Na época, causou desconfiança, já que usava álcool, combustível renovável que se transformaria ao longo da década de 80 no grande player para o avanço tecnológico dos motores fabricados para os carros nacionais.
A italiana Fiat foi pioneira no mundo na produção em série do motor a etanol. Apelidado de “Cachacinha” por causa do odor característico exalado pelo escapamento, o Fiat 147 a etanol simbolizou um marco importante para a engenharia automotiva brasileira, que a partir daquele dia 5 de julho de 1979 engatou uma marcha na direção do desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes. O motor iniciou o ciclo do produto derivado da cana-de-açúcar e impulsou o Pró-Alcool, o programa do governo federal. A história do Fiat 147 a etanol remonta a 1976, quando as pesquisas e desenvolvimento do motor movido ao derivado da cana-de-açúcar começaram – mesmo ano em que o 147 a gasolina foi lançado no Brasil, tornando-se o primeiro carro Fiat fabricado no país. “Vivíamos a era do Pró-Álcool, um programa nacional para combater a crise do petróleo”, lembra Robson Cotta.
Ainda em 1976, em sua primeira participação no Salão do Automóvel de São Paulo, a Fiat expôs um protótipo do 147 a etanol com dezenas de milhares de quilômetros rodados. O ano seguinte foi dedicado ao aperfeiçoamento técnico do produto, além da produção de novas unidades que foram sendo submetidas a diversos testes. Em 1978, a Fiat desenvolveu o motor 1.3 de 62 cv de potência e 11,5 kgfm de torque que, durante os testes, acabou se mostrando mais adequado para o uso do etanol que o propulsor a gasolina de 1.050 cm3, até então utilizado no 147. No início daquele ano, três Fiat 147 a etanol foram entregues ao DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) para serem experimentados no policiamento da Ponte RioNiterói. Em setembro de 1978, um Fiat 147 100% a etanol realizou o que viria a ser o teste definitivo para criação do primeiro motor brasileiro a etanol: uma viagem de 12 dias e 6.800 quilômetros de extensão pelo país, percorrendo uma média superior a 500 km diários, três mil quilômetros por vias de terra e variações climáticas de mais de 30 graus.
Andar em um carro histórico é demais, um privilégio para quem gosta de modelos clássicos e de test drive. Ao longo da minha vida de jornalista automotivo, já andei de esportivos, como Ferrari, modelos que vendem muito no mercado, carros luxuosos e tecnológicos. Mas, dirigir o 147 é para poucos. A Fiat brindou os jornalistas com o que há de mais interessante na indústria: carro. Quem trabalha com jornalismo e automóvel sabe bem a importância de rodar com um veículo original e com quem participou do projeto de desenvolvimento do Fiat 147, como o engenheiro Robson Cota, apaixonado pelo “Cachacinha” e pela história que o 147 conquistou no mercado brasileiro.
O jornalista viajou a convite da Fiat do Brasil
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