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Indústria de lubrificantes deve crescer 2% ao ano no Brasil, com novo perfil de produtos sustentáveis

Escrito por Roberto Nunes

A retomada da indústria de lubrificantes aos patamares pré-pandemia só deve ocorrer em 2024. A retração global no ano passado foi de 10%, com 35 milhões de toneladas comercializadas, ante as 38,8 milhões de 2019. A expectativa é de crescimento anual entre 1,5% e 2% nos próximos três anos, com investimentos contínuos em novas tecnologias focando sustentabilidade e eficiência.
 
Os dados sobre mercado e perspectivas foram revelados por Sergio Rebêlo, da Factor Kline, na palestra inaugural da 14ª edição do Simpósio Internacional de Lubrificantes, Aditivos e Fluidos, organizada e promovida pela AEA – Associação Brasileira de Engenharia Automotiva. Realizado nas manhãs dos dias 27 e 28 deste mês, o evento teve por tema central a “A indústria de lubrificantes pós-pandemia”.
 
Em sua palestra sobre “Mercado de lubrificantes pós-pandemia”, Rebêlo projetou para o Brasil expansão anual de pelo menos 2% das vendas, com avanços tecnológicos que representarão novo mix na oferta de produtos. Na sua avaliação, a participação dos sintéticos e semissintéticos será ampliada, acompanhando tendência da indústria automotiva de reduzir emissões e melhorar a eficiência energética.

O consultor também falou dos aumentos de custos no setor e das dificuldades para aquisição do óleo básico, o que vem reduzindo margens com consequente queda de lucratividade. Na sua opinião, contudo, a pandemia deixou uma lição importante: “Temos de abraçar a incerteza, treinar as equipes para cenários inesperados. Aprendemos ser fundamental ter maior flexibilidade operacional e diversificar as fontes de fornecimento”.
 
Participaram da sessão de abertura do evento o vice-presidente da AEA, Marcus Vinicius Aguiar, e a diretora de Lubrificantes da entidade, Simone Hashizume, também coordenadora do evento. Após a palestra do representante da Factor Kline, houve apresentações com Kleber Lins, da Vibra Energia; Paulo Gomes, da Iconic; e Rogerio Ludorf, da Petronas, seguidas de um debate com mediação de Sergio Viscardi, também coordenador do evento.
 
Todos destacaram que, apesar das dificuldades, estão sendo mantidos investimentos em novas tecnologias e processos. A Vibra Energia, por exemplo, está aumentando em 60% a sua capacidade, acreditando “em um futuro interessante para o mercado de lubrificantes”, conforme palavras de Kleber Lins.
 
Outro ponto consensual refere-se à perspectiva de o ritmo de eletrificação no Brasil ser mais lento do que em outros países, como os europeus e os Estados Unidos, com as atenções voltadas mais para o híbrido flex num primeiro momento. Um cenário, na opinião dos palestrantes, que favorece o mercado local de lubrificantes. “O Brasil tem uma diversidade de matrizes energéticas, que o favorece na área de biomassas.

Emissões e eficiência energética – Na segunda etapa do primeiro dia do simpósio, teve palestras de Marcus Vercelino, da Lubrizol, sobre “Tecnologia de aditivos para motocicletas”, de Raquel Mizoe, da General Motors e diretora de Veículos Leves da AEA, sobre “Visão das tecnologias de propulsão no mercado brasileiro”; e de Rodolfo Ferreira, da Afton Chemical, sobre “Lubrificantes Dexos 1 geração 3”. Todos participaram de um debate que teve mediação de Everton Gonçalles, membro da Comissão Técnica de Lubrificantes da AEA.
 
Sobre as motos, Vercelino destacou a importância de os usuários utilizarem produtos dedicados, que atendam as especificações do universo duas rodas. Rodolfo Ferreira, por sua vez, informou que dados coletados nos Estados Unidos, que refletem o mercado das Américas, mostram que a participação dos lubrificantes sintéticos, que era de apenas 28% em 2010, já está na casa dos 40%.
 
Dentre outros assuntos, Raquel Mizoe abordou os avanços em emissões e eficiência energética decorrentes de programas como o Proconve e o Rota 2030, mas lembrou que a frota brasileira é muito antiga. A executiva defendeu a importância de uma política pública para incentivar novas tecnologias rumo à eletrificação. “Todas as tecnologias vão conviver ainda por muitos anos. Mas o Brasil tem de pensar no longo prazo para não deixar o país e a engenharia brasileira para trás””, destacou Mizoe.
 
Essa mesma linha de raciocínio foi abordada por Ricardo Abreu, da Bright Consulting, em palestra que abriu os trabalhos do segundo dia do evento e teve por tema “A importância dos combustíveis fósseis e renováveis na matriz energética brasileira”. O consultor foi enfático na análise de que o motor a combustão ainda vai perdurar por muito tempo.
 
“O objetivo é a sustentabilidade. Nenhuma tecnologia sozinha vai resolver o problema. Vamos ter de combinar as tecnologias disponíveis de acordo com o uso e as peculiaridades dos veículos”, comentou Abreu. “O Brasil está atrás do baixo carbono e não importa como isso vai acontecer. É necessário, contudo, traçar um plano para o País. A velocidade das transformações vai depender das legislações”.
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Fora de estrada e agrícola – Os demais temas abordados no segundo dia do simpósio da AEA foram “Equipamentos fora de estrada”, com apresentação de Boris Sanchez (Volvo Constrution), “Máquinas agrícolas”, com André Rocha (AGCO), “Lubrificantes para motores off-road”, com Jorge Manes (Infineum) e “Tecnologia de aditivos para tractor hydraulic fluid”, a cargo de Marcos Davi Rufino (Oronite).
 
O debate realizado após essas apresentações foi mediado por Roberta Teixeira (Iconic), que também foi uma das coordenadoras do evento. Assim como aconteceu em todo o simpósio, todos os participantes desse último debate focaram suas considerações em sustentabilidade e eficiência.
 
André Rocha, da AGCO, destacou que não adianta haver investimentos na evolução dos produtos se não houver utilização adequada dos fluídos, lubrificantes e até mesmo dos combustíveis. Opinião semelhante foi manifestada por Boris Sanches, da Volvo Constrution: “A escolha dos fluídos e dos lubrificantes tem de ser adequada, com foco em eficiência e também economia”.
 
Marcos Rufino, da Oronite, falou sobre máquinas agrícolas. “A alma do trator é a transmissão”, comentou. “O uso adequado de fluidos nessas máquinas é fundamental para garantir eficiência, produtividade e também durabilidade”. Ainda sobre fluidos, comentou que os e-fluids, além de lubrificar, terão papel fundamental na refrigeração de componentes dos veículos elétricos.
 
Ficou evidenciado ao final do evento promovido pela AEA que o setor de lubrificantes, aditivos e fluidos deve passar por transformações nos próximos anos, mas com garantia de sobrevivência independentemente da evolução mundial dos veículos elétricos. No Brasil, em particular, o setor ganha ainda mais força a partir do fato de o motor híbrido flex, com uso do etanol, ser considerado uma alternativa importante rumo à descarbonização.

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Roberto Nunes

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