Carros

E a vida segue dando exemplos: anônimos, mas exemplos

Escrito por Roberto Nunes
Por Durval Pereira
Pego passageira no IAPI, domingo pela manhã, destino Bonfim, é seu aniversário e a partir daí ela começa a contar sua vida, do orgulho que tem dos filhos. Ela vendia salgados na porta do Salesiano, botou o marido para fora, não disse o motivo e eu não perguntei.
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Os alunos a chamavam da mulher do brigadeiro. Sempre que podia falava para o padre e a segunda pessoa na direção do colégio da inteligência do filho. Tanto falou que conseguiu uma bolsa integral, já seria uma vitória, mas como não tinha dinheiro para transporte e o filho não sabia voltar sozinho, ela ia, vendia os salgados e ficava o tempo todo indo em igrejas até a aula do filho acabar.
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As vezes ficava na escola e vendo as serventes trabalharem na escola ela arregaçava as mangas e as ajudava, sem interesse. Um dia, a segunda pessoa no comando disse para ela vender seus salgados numa cantina do colégio, ela pulou de alegria, mas salientou que não tinha geladeira, freezer, etc; não se preocupe foi a resposta que recebeu e recebeu também uma estrutura toda pronta, com a condição de só ela explorar, nada de funcionários, eram 900 salgados por dia e 18 tortas, esses números podem parecer enriquecer alguém, mas para dar conta ela tinha que pedir ajuda a duas vizinhas e por assim foi por  anos até que a direção do colégio mudou e os novos diretores pediram que ela pagasse um aluguel que ela não tinha condições.
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Mas Deus é glorioso, isso se deu na semana que seu filho se formava em Medicina, esse filho na oitava série passou no vestibular, ( não deve ter feito a faculdade a partir daí, não sei) foi materia de jornal, acho que A Tarde, ganhaou foto na sala de honra do Salesiano. Ela tem todos os registros das homenagens ao filho.
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O jovem foi para o interior do estado, trabalhou um ano, fez concurso e passou em primeiro lugar na USP. Isso deu direito a bolsa de estudo, mas sem dinheiro até para se alimentar aproveitava do bandejão durante a semana, no sábado não tendo bandejão ligava pra mãe:
” – Mãe…!!! Como é que se faz o ovo com azeite que a senhora fazia para nós quando não tinha comida?”.
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Ela me contou essa parte triste por não poder te mandado um centavo para o filho, ele teve que se virar sozinho. O filho se formou no curso lá, foi aproveitado na USP. Resolveu voltar para Salvador e passou em primeiro lugar aqui (ela não disse aonde). Fez curso em Cuba e nos EUA, é nefrologista, hoje é dono de uma famosa clínica a qual não vou dizer o nome por falta de autorização. Esse rapaz tem 34 anos, um irmão é um conceituado engenheiro e a irmã também se formou, não me lembro em que e hoje com o marido são donos de uma rede de lojas.
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Tudo isso foi contado do trajeto IAPI até o Bonfim, a aniversariante estava grata a Deus pois além de tudo se livrou de um câncer, em algumas partes da sua história me fez lembrar minha mãe.
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Vida de motorista por aplicativo tem dessas emoções.

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Roberto Nunes

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